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Você não é nada além de você mesmo. Por que apegar-se aos eventos quando deveria ser apenas um espectador? Por que tratar como realidade os fenômenos e informações externas, a ponto de criar identificações e confusões internas que exigirão grandes esforços para serem resolvidas, quando nada disto é real?
Seu papel, dentro dessa dinâmica da existência, é o de um observador. Nada daquilo que provocar em ti qualquer tipo de emoção pode ser verdadeiro. As emoções dão vitalidade àquilo que deveríamos tratar apenas como informações, na verdade, elas emprestam toda a matéria-prima do universo fictício que estamos construindo.
É preciso trabalhar no sentido de deixar a mente quieta, parar de envolver-se com tanta intensidade com o filme apresentado em sua tela mental, pois você não faz parte da trama, você é apenas um convidado, foi chamado para assistir, não é um ator, mas um espectador.
Você é uma alma individual em busca do Supremo e o Supremo é o vazio. Lembre-se que o Tao só pode ser identificado com o vazio. O Tao é a essência não a substância. Qualquer informação transforma-se rapidamente em algum tipo de energia, consequentemente, fica substancial e o vazio perde importância, pois foi preenchido por coisas e essas coisas, em algum momento, deverão ser destruídas, até que estejamos novamente vazios. Entende agora porque a física quântica trata energia como informação?
Você escolheu viver na existência mente-corpo, portanto, supõe participar de um enredo cênico, de um espetáculo dramático, acredita fazer parte de uma história qualquer, convicto de ser um dos personagens, no entanto, não percebe que está preso em uma ficção, que este não é você, que esse personagem é periférico e agitado. Você, na verdade, está sentado na plateia, você é o espectador, apenas esqueceu-se disto.
O mestre Osho, em uma de suas palestras sobre o zen, nos deu o exemplo do mar, comparando-o com o homem. O mar, em suas profundezas, é calmo e silencioso, absolutamente estável, mas na superfície é agitado, pois vive em conflito com o vento. O homem vive a vida da superfície e despreza a vida das profundezas do próprio ser, sofre com as demandas externas sem perceber a grandeza de sua Natureza, pena no confronto com os ventos da mente e não percebe que é absolutamente poderoso, não entende que não precisa dar tanta importância aos eventos externos, pois em que pese ser o próprio oceano, traz a grandeza da eternidade e do silêncio na própria essência. Lembremos o poeta português: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.
É preciso estar ausente, vazio, para que o Todo se manifeste, para que o Supremo se apresente, enquanto você insistir em atuar, em agir, em responder e, principalmente, em participar emocionalmente dos eventos, estará criando identificações com o personagem, portanto, criando dificuldades para si.
Seja um espectador, apenas uma testemunha, aprenda a não reagir, ofereça o outra face, dê a quem te pede, não resistas ao mal, não são palavras minhas, são máximas cristãs, Jesus sabia disto, Buda sabia disto, todos aqueles que conseguem acordar sabem disto, é preciso agir pelo não agir, é preciso trabalhar as virtudes que são usadas a favor do desapego, como a aceitação, a resignação, a tolerância, a humildade, a serenidade, enfim, tudo aquilo a puder ser usado a favor da nossa desidentificação com esse personagem é bem-vindo.
As metas, os objetivos, as provações e os percalços da existência, são instrumentalizados pelo Todo, visa o nosso despertar, não há por que revoltar-se, você não é vítima, você é absolutamente amado por essa força que incide sobre ti, mesmo que muitas vezes de forma violenta e agressiva, não importa, você não deve se revoltar, no fundo ela esta sendo extremamente amorosa, são os tapas necessários para tirá-lo deste estado de letargia.
O Todo é a Mãe Divina, é o Self, é Deus, é Brahman, enfim, o nome não tem muita importância, nem é preciso dar nome algum, pois o Todo, no fundo deste Oceano, é você.