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A Natureza e a normalidade definitivamente não se entendem. Existem uma diferença enorme entre ser ”normal” e ser natural.
Assistir cristãos sendo devorados por leões famintos já foi um evento absolutamente normal. Queimar bruxas, cortar cabeças de infratores em praças públicas ou matar em nome de Deus (até hoje acontece) já foram atos considerados normais. A escravidão já foi normal, a mutilação genital é algo normal no Sudão e na Somália até os dias de hoje e a pena capital segue sendo mantida como um recurso indispensável para manter a ordem em muitos países, até mesmo na maior potência do planeta.
Tratar algo como normal é simplesmente considerar, o que quer que seja, como algo aceitável, lícito, portanto, ser normal não significa nada.
Muitas pessoas se orgulham de sua normalidade, vivem ajustadas por limites muito estreitos e expressam uma personalidade quadrada, programada, repetindo padrões impostos por tradições religiosas e culturais. Lutam para estarem encaixadas no sistema e não percebem o nível de programação a que foram expostas.
Normal é simplesmente aquele que segue normas, nada mais. O orgulho, a timidez, a vaidade e muitos outros vícios mentais são decorrentes disso.
As normas criam condicionamentos que levam o indivíduo a desenvolver desvios de caráter, pois estimula a hipocrisia, fomenta julgamentos e conspira contra a natureza humana, criando um cisão entre o Eu (Self) e o personagem (ego). O coração deixa de ser ouvido, pois a vida se transforma em algo mental, virtual, simplesmente artificial. Tudo que se aspira é realizar um personagem idealizado. Todo esforço empreendido na existência fica reduzido ao desejo de ser aceito e aprovado pelo meio e qualquer transgressão à essa simetria doentia é mau vista e combatida.
Os Judeus queriam apedrejar a mulher adúltera, estavam prontos, com pedras nas mãos, ansiosos pelo momento de executá-la, precisavam atender às suas demandas internas por justiça, assim, aproveitaram o ensejo para testar aquele que vinha sendo tratado como mestre e resolveram testá-lo. Imaginaram que o Nazareno jamais se colocaria contra as normas vigentes, pensaram que, de forma alguma viriam os estatutos mosaicos sendo contestados. Não foi pequena a surpresa quando receberam um convite daquele jovem galileu à uma reflexão interior.
Quando aquela turba de homens insanos, considerados “normais”, olharam para si, perceberam o tamanho do equívoco que estavam cometendo, foram obrigados a deixar de avaliar a pecadora para fazerem uma auto avaliação e acordaram. Perceberam que existe uma instância dentro do próprio Ser que segue um outro estatuto: o estatuto do amor e assim, deixaram de julgá-la.
Todas as vezes que nos rendermos incondicionalmente a qualquer conjunto de normas, estaremos acionando nossa predisposição ao julgamento.
Jesus deixou uma regra de ouro para dar orientação ao comportamento humano, uma regra que um dia poderá dispensar toda e qualquer constituição de normas e leis: “Não faça aos outros o que não quer que seja feito a você”.
A humanidade é vitima de uma epidemia global: a normose, uma obsessão doentia por ser normal. Educamos os nossos filhos e fomos educados para fazer parte de modelos absolutamente repressivos, que impedem a livre expressão, que intimidam e formatam o ser humano de forma cruel.
Carl G. Jung definiu esse fenômeno quando disse: “Nascemos únicos e morremos cópias”, infelizmente, é isso que acontece quando nos divorciamos da nossa verdadeira natureza. Gastamos recursos energéticos gigantescos para esculpir uma estátua sem vida própria que possa fazer parte de um quadro social qualquer e com isso perdemos toda intimidade com o nosso Eu verdadeiro.
Ao orientar-se por normas, o homem passa a julgar o que é certo e o que é errado. Não percebe que dentro da realidade só existe o certo, pois aquilo que julga errado corresponde aos eventos que não se ajustam à sua régua de valores e só existe dentro de sua cabeça.
Eu disse CABEÇA!